Queremos a omelete, mas não queremos quebrar os ovos
Amanhã, 5 de novembro, comemora-se o Dia Nacional da Cultura. Devemos aproveitar o ensejo para refazer, repetir e enfatizar três questões que não podem ser omitidas e continuam no ar.
Amanhã, 5 de novembro, comemora-se o Dia Nacional da Cultura. Devemos aproveitar o ensejo para refazer, repetir e enfatizar três questões que não podem ser omitidas e continuam no ar.
O Rio de Janeiro, cidade inequivocamente maravilhosa, é tido como importante pólo incontestável do país. Por isto, é um forte candidato ao título de Patrimônio Mundial na categoria paisagem cultural.
O conceito foi instituído pela Unesco, em 1972, e abrange dois aspectos indissociáveis, uma vez que considera porções singulares dos territórios, onde a inter-relação entre a cultura humana e o ambiente natural confere à paisagem uma identidade singular.
Trocando em miúdos, a natureza e as construções culturais conferindo a singularidade a um território. Então, nada mais pertinente, nesse Dia Nacional da Cultura, do que chamar, mais uma vez, a atenção para as tarefas que temos pela frente. Pois, se pleiteamos o título de Paisagem Cultural da Humanidade, a ele temos de fazer jus.
E o temos feito? Infelizmente, ainda não. E as três questões que não podem ser caladas evidenciam nossa omissão.
A primeira delas refere-se a nossa total desatenção aos funcionários da Cultura. Eles, como os servidores da Saúde e da Educação, deveriam merecer e nosso respeito e reconhecimento por zelarem por nosso patrimônio material e imaterial, por nossos bens simbólicos e históricos. Mas, o que damos em troca é uma remuneração irrisória, o que faz com que os servidores da Cultura sejam uns dos mais mal pagos do país.
Recentemente, para protestar contra essa distorção, esses servidores realizaram uma greve reivindicando da União o cumprimento de um acordo salarial, prometido desde 2007. Em troca, tiveram a ameaça de corte de salários pelos dias de greve ...
A segunda questão diz respeito a um aspecto que se revela, no mínimo, autoritário e arbitrário, a saber: a Prefeitura deve à cidade um Conselho Municipal de Cultura, pois o que existe não tem legitimidade, uma vez que não conta com a participação da sociedade civil.
Essa questão nos remete à terceira, pois, se a sociedade civil pudesse participar do Conselho Municipal de Cultura, talvez não fôssemos obrigados a conviver com o descaso com que são tratados os bens culturais da cidade que estão em estado precaríssimo.
Deles o centenário Hospital-Escola São Francisco de Assis, situado ao lado da Prefeitura, é um exemplo emblemático de descaso e esquecimento.
Centro de excelência de medicina preventiva, destacando-se no tratamento de pacientes portadores do HIV, o hospital necessita de R$ 30 milhões para ser restaurado e modernizado.
Esse valor corresponde a um trigésimo daquele destinado às obras de reforma e descaracterização do Maracanã. E a 1/8 do que custará o novo Museu do Amanhã, estimado em R$ 250 milhões.
Outro exemplo é nosso Parque do Flamengo. Bem público tombado, cuja “cereja do bolo”, a Marina da Glória, amanhã, Dia Nacional da Cultura, será ironicamente o palco da apropriação do público pelo privado: ali estará em cartaz uma exposição das motocicletas Harley Davidson...na Unidade de Conservação ambiental??
Ou seja, queremos o prestígio do título de Paisagem Cultural da Humanidade, sem nos darmos ao trabalho de cuidar pelo o que garante o título.
Buscamos um reconhecimento digno e decente, mas devemos cobrar o cumprimento do nosso “dever de casa”, e conferir um tratamento decente ao nosso patrimônio, e aos que por ele zelam, exigindo do poder público municipal o lugar de direito que a sociedade civil possui para deliberar sobre o que a ela pertence.
Queremos a omelete, mas não queremos quebrar os ovos.
Veja abaixo o belo filme, somente do melhor do Rio, candidata legítima a Paisagem Cultural da Humanidade!
Um comentário:
Acho que mais certo falar QUE O RIO É UMA CIDADE DESNATURADA E ACULTURADA.
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