Nesta época, as ruas são tomadas pelos blocos; e pelo Carnaval mais legítimo – o de rua, e que acontece especialmente nos espaços públicos mais agradáveis: no Centro, em Santa Tereza, nos subúrbios, na orla marítima, entre outros. A duras penas, ele acontece na Avenida Rio Branco, onde os enfeites, pendurados nos postes altíssimos, somem entre os insossos prédios da avenida.
Carnaval de rua tem a ver com ruas com identidade e dimensões humanas, onde as pessoas não se sintam sufocadas ou oprimidas pelos frios espigões de cimento; ruas em diálogo com seus habitantes.
Talvez seja por este mesmo motivo que as cidades históricas mineiras se enchem de turistas que lá pretendem lotar os seus espaços públicos e casarões. São cidades que conservam símbolos externos de identidade, com dimensões humanas não sufocantes.
Conclusão: sem rua não há o verdadeiro Carnaval. Mas não é qualquer rua; tem que ser rua feita para gente. Sem isso, não há cidade. Sem cidade, não há Carnaval.
O Carnaval, a festa mais popular do Brasil, e a mais aglutinadora de todas, escolhe o espaço coletivo para o abraço popular. O mesmo espaço coletivo que, no dia a dia é desdenhado, tomado pelo veículo impávido, desprezado em suas calçadas e em sua conservação pelo poder público. No Carnaval o povo o retoma, e mostra a sua importância: é o espaço, por excelência, de agregação da comunidade. E a cidade se mostra, mais do que nunca, como bem e espaço coletivo, indivisível.
Duas são, portanto, as lições: o espaço público – onde as ruas são do povo, do cidadão, que por elas passa todos os dias, e é em prol dele que elas devem ser dimensionadas e conservadas. E, dois: a rua, para ser agradável, e devidamente fruída, deve ser protegida do esmagamento pelos prédios que lhe ladeiam. Deve também conservar a identidade com seus moradores do bairro, que formam sua comunidade.
Hoje, chamamos as favelas de comunidades para desmistificar a carga negativa do nome original. Quiçá elas virem bairros. E os bairros virem comunidades no sentido de lhes atribuir o valor do cuidado e da estima coletiva de seus moradores. E a rua, o espaço coletivo amplo, agradável, cuidado, iluminado – é a via, o caminho.
Quais as regras que temos em nossa cidade para dimensioná-la, conservá-la, e mantê-la? Eu não sei, ou só sei mais ou menos, mas vou pesquisar!