segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO E A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

1. O que uma coisa tem a ver com a outra?
O processo: o processo político de transformação social, de absorção de uma ideia, do convencimento social.

2. Mais uma vez, foi o livro de José Murilo de Carvalho sobre D.Pedro II, o mote inspirador. No capítulo 17, que fala sobre o “Cancro Social”, ele aborda a longa discussão política e social, havida no Brasil, há cerca de 150 anos, sobre aquilo que hoje nos parece um absurdo total – ter escravos! E fazem apenas 120 anos que este regime jurídico foi abolido pela chamada Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888!
Como um regime tão estapafúrdio conseguiu sobreviver por milênios, na sociedade em geral, e brasileira por tantos séculos? E por que, o que hoje nos parece o óbvio, custou uma luta política e social abolicionista de mais de 50 anos no Brasil?

3. A resposta parece ser que o óbvio não é óbvio enquanto não se torna visível, e socialmente incorporado ao sentimento geral. E é isto que ocorre com a sustentabilidade ambiental e urbana. Nosso planeta está gemendo de dores. Flora, fauna, gente, território – tudo rapidamente consumido e espoliado em nome de “desenvolvimento”, crescimento, grana, e suposto emprego. Vamos matá-lo por isto?

4. Reverter este processo de destruição óbvia e avassaladora é "a questão" do novo movimento político. Só haverá bem estar para todos se houver TERRA, e se esta for sustentável, com suas riquezas naturais. O discurso dos “desenvolvimentistas” é o mesmo dos escravocratas do século XIX. Veja os trechos abaixo, que destaquei do livro citado:

O ataque mais elaborado ao Imperador [que era a favor da libertação] e a mais explícita defesa da escravidão vieram da pena do romancista José de Alencar [1867]. (...) O monarca, segundo o autor de Iracema [estaria querendo] agradar aos filantropos europeus à custa dos interesses nacionais. A escravidão, argumentava, era um fenômeno histórico que não podia ser resolvido a golpes da lei. Ela desempenhou sempre um papel civilizador e desapareceu quando esta função foi cumprida [na Europa]. No Brasil ainda constituía fator indispensável de nossa civilização. Quando tornasse desnecessária, desapareceria por si. Os países europeus não tinham moral para nos criticar, pois mantiveram a escravidão por muito tempo em suas colônias. E seus filantropos eram hipócritas: combatiam a escravidão, mas fumavam charutos cubanos e bebiam café do Brasil, dois produtos do trabalho escravo” (p.133)

5. Tudo bem: mas justificava a escravidão?

E hoje: pelo fato da Europa, EUA e Ásia terem destruído o meio ambiente, nós aqui também temos o “direito” de fazer o mal? De construir Belo Monte, por cima de lei?

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