Após a última grande intervenção realizada, no fim da década de 90, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul do Rio de Janeiro, a prefeitura iniciou, em fevereiro deste ano, serviços de revitalização no local.
O projeto, orçado em cerca de R$ 8,3 milhões, tem previsão de término em abril de 2012, segundo o Secretário Municipal de Conservação e Serviços, Carlos Roberto Osório, em entrevista exclusiva a este blog.
Segundo Osório, o projeto de revitalização da Lagoa resultou da necessidade de melhorias na infraestrutura e no ambiente para os usuários da Lagoa.
“Para essa revitalização, a prefeitura teve como foco as necessidades dos usuários. O entorno Lagoa Rodrigo de Freitas é uma das áreas de lazer mais frequentadas da cidade e será valorizada com essas intervenções”, afirma o secretário.
Contudo, o “pacote de serviços” - que inclui a recuperação de toda a ciclovia, dos três parques, Patins, Taboas e Cantagalo; do mobiliário urbano, além da reformulação completa do sistema de iluminação pública – tem causado grande descontentamento ao grupo de frequentadores assíduos do espaço, que viram o seu local de prática de esportes e afins ser recentemente demolido.
Consulta
No final de agosto, representantes da Associação Brasileira de Parkour (ABPK) - atividade cujo princípio é mover-se de um ponto a outro o mais rápido e eficientemente possível, usando principalmente as habilidades do próprio corpo, praticada tanto por homens (traceur) quanto por mulheres (traceuses) – procuraram o Gabinete da vereadora Sonia Rabello para consultá-la sobre a melhor maneira de organizarem uma manifestação pacífica contra a demolição dos Castelos do Parque dos Patins, uma vez que, à época, a parte dos Labirintos já havia sido demolida.
Antes
Créditos: http://picosdetreinodoriodejaneiro.blogspot.com/ |
Depois
Segundo o grupo, no final de 2010, não somente usuários do Rio de Janeiro, mas também de diversas partes do Brasil que frequentavam o espaço de lazer Parque dos Patins, entregaram à Subprefeitura da Zona Sul um abaixo-assinado em prol da preservação ou, ainda, do redirecionamento do espaço dos Castelinhos, onde semanalmente ocorria o encontro de dezenas de pessoas para a prática de Parkour.
Segundo o grupo, no final de 2010, não somente usuários do Rio de Janeiro, mas também de diversas partes do Brasil que frequentavam o espaço de lazer Parque dos Patins, entregaram à Subprefeitura da Zona Sul um abaixo-assinado em prol da preservação ou, ainda, do redirecionamento do espaço dos Castelinhos, onde semanalmente ocorria o encontro de dezenas de pessoas para a prática de Parkour.
Ainda de acordo com os adeptos da modalidade, a área sempre foi aproveitada ao máximo, contribuindo não somente para a diminuição do volume de mendigos, mas também para a manutenção e limpeza feita pelos jovens, de forma voluntária, conjuntamente com a Comlurb.
Além de referência nacional da prática do Parkour, o local serviu, durante muitos anos, como área de lazer para várias gerações.
Além de referência nacional da prática do Parkour, o local serviu, durante muitos anos, como área de lazer para várias gerações.
O perigo
A importância cultural e esportiva dos Castelinhos, entretanto, foi menor do que a insegurança instaurada no local, conforme alegou o secretário Carlos Osório.
Ele informou que, durante o processo de discussão do projeto de revitalização - a partir de reuniões do Comitê Gestor da Lagoa, integrado por secretarias governamentais e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além da assessoria de arquitetos e urbanistas -, foi constatado que o local servia de refúgio para moradores de rua, usuários de drogas e prostitutas, acarretando não somente uma situação de risco, mas também repetidas depredações, o que exigia uma manutenção constante.
Osório afirmou que a necessidade da demolição se deu a partir desse uso desvirtuado, levando-se em conta para o novo uso uma rigorosa avaliação arquitetônica e paisagística.
Quando indagado se o reforço da segurança no local não seria uma alternativa, ele ressaltou que a Secretaria de Conservação é tão somente um órgão executor. Ou seja, outras medidas dependeriam de um planejamento e de uma determinação da parte dos responsáveis pelo projeto.
Referência esportiva
O Parkour chegou ao Rio de Janeiro em meados de 2005. Naquele momento não havia uma organização da modalidade, e cada praticante treinava de forma isolada, guiado somente por informações adquiridas em vídeos na internet e matérias na mídia. Em 2006, com a maior difusão da atividade, surgiram os primeiros grupos organizados por amigos e que começaram a manter treinos regulares na capital.
O local estabelecido como ponto de encontro semanal entre os praticantes foi o Treino nos Castelinhos da Lagoa e o Treino nos parques coloridos do Flamengo, acolhendo iniciantes e veteranos para a troca de experiências.
Visando uma maior expansão da atividade no Rio de Janeiro, o 3º Encontro carioca de Parkour ocorreu em agosto de 2010 na cidade. A intenção foi a de deslocar praticantes de outras cidades vizinhas para uma grande confraternização em um dia de encontro. Mais de 100 pessoas compareceram, e mais de 70 quilos de alimentos não perecíveis foram arrecadados para doações.
O espaço, que já era considerado uma referência nacional, promovendo o intercâmbio de informações, hoje, resume-se a montes de entulho e lembranças, conforme testemunhou a assessoria do Gabinete da vereadora Sonia Rabello durante visita ao local, no dia 13 de setembro.
Sem discussão
Crédito: Ascom Sonia Rabello |
Sem discussão
De acordo com o Secretário Municipal de Conservação e Serviços, Carlos Roberto Osório, não houve necessidade de audiência pública para a discussão e a implantação do projeto de revitalização, tendo em vista a autonomia do Comitê Gestor para a tomada de decisões.
Ao mesmo tempo, frequentadores da Lagoa têm se indagado se o Munícipio não deveria, antes de tudo, ter efetivamente ouvido as sugestões da população, a busca de novas alternativas e o debate com a sociedade.
Afinal de contas, um abaixo assinado foi encaminhado às autoridades competentes solicitando uma reavaliação do projeto antes de sua execução. Isto poderia ter evitado a demolição das estruturas dos Labirintos e Castelinhos, ou ainda ter tornado possível, à época, o deslocamento/redirecionamento do espaço para uma nova área na Lagoa.
Afinal de contas, um abaixo assinado foi encaminhado às autoridades competentes solicitando uma reavaliação do projeto antes de sua execução. Isto poderia ter evitado a demolição das estruturas dos Labirintos e Castelinhos, ou ainda ter tornado possível, à época, o deslocamento/redirecionamento do espaço para uma nova área na Lagoa.
Confira mais sobre os usos dos espaços dos Castelinhos da Lagoa e a prática do Parkour neste vídeo:
Um comentário:
Tenho me perguntado constantemente onde iremos chegar. Qual o Rio de Janeiro que teremos após os eventos esportivos tão curtos, mas que mudarão nossa cidade para sempre? Que tipo de gestão é esta que tem o poder de decidir sobre tudo? Foi isso que elegemos em 2008?
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