segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Haiti: lição a céu aberto

1.  Estamos acostumados a saber, e ver em fotos, situações de pobreza extrema em países e regiões africanas. O que mais me chocou na situação haitiana foi ver a completa desintegração social em um país latinoamericano!

2.  No Haiti, os técnicos e governantes locais, com quem nosso grupo se encontrou, faziam questão de dizer que lá a história era diferente; que eles eram diferentes dos demais países latinoamericanos.  Infelizmente não é verdade. Apenas a dimensão da pobreza assumiu escalas inimagináveis. O Haiti é o país de maior diferença de renda entre ricos e pobres. O segundo lugar, neste triste recorde é o Brasil.


3.  O país já foi “rico” e próspero, com sua economia agrícola. Mas não soube se conservar, pois quem produzia a riqueza tratou a terra como explorador colonial, esgotando-a ao máximo. Hoje, dizem que a terra está devastada, sem cobertura vegetal, e com profundas marcas de erosão em suas montanhas! A estrutura fundiária é confusa, com sobreposição de concentração de terras, com arrendamentos, e minifúndios. Ambos superexplorados, para lhes tirar a última gota. E, quem pode, deixa o país, conservando apenas, caso tenha, os seus títulos de propriedade.

4.  Nas cidades os serviços públicos são inexistentes. Não há serviços sanitários, a água é hiper escassa, o transporte público é feito em caçambas de caminhonetes, não há praticamente iluminação pública. O índice de analfabetismo é de cerca de 70%, e não há praticamente serviço de saúde pública. O país não tem exército (Costa Rica também não tem e, aparentemente, neste caso, não faz falta); tem apenas força policial. A segurança interna, e externa é feita por forças internacionais, tendo o Brasil em um dos comandos. Aparentemente, o Governo perdeu o controle social do seu território.

5.  Como que para simbolizar a catástrofe, o terremoto destruiu o centro da cidade de Port au Prince. O palácio do governo está semidemolido, a Prefeitura totalmente no chão, vários prédios públicos semidestruídos. A Catedral, cujo teto desabou matando nossa querida Zilda Arns, ainda permanece sob escombros. Apenas 5% deles foram retirados de toda a cidade. As ruas estão intransitáveis. Ali um estrangeiro não pode andar a pé no centro, seja de dia, seja de noite.

6.  A ajuda internacional chega sob forma de serviços médicos, roupas, água, comida empacotada, pois não se pode cozinhar nas cabanas de lona ou plástico. Os “banheiros” são comunitários, e os banhos também.

7.  Não se ouve falar de ajuda humanitária sob a forma de implantação de indústrias ou serviços. Empresas de engenharia, que teriam tudo a fazer naquele país, e que estão no país ao lado – na República Dominicana - não querem ousar entrar no Haití, embora se diga que há recursos internacionais disponíveis a serem utilizados.  Sem emprego, sem força de reconstrução pela educação e pelo trabalho organizado e planejado, haverá esperança?

8.  Desta lição vi que aqui, no nosso país, também convivemos, há mais de um século, com nossos pequenos Haitis. “Empurrando com a barriga” a realidade, e mudando os rótulos para disfarçar os nossos tugurios, agora sob a nova denominação de “comunidades”.  Nelas, apesar dos programas paliativos, no conteúdo nada mudou, a não ser na sua dimensão, que cresceu mais ainda...
Até quando?

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