terça-feira, 28 de junho de 2011

Porto do Rio: será mesmo uma “Maravilha”?


Serão divulgados, hoje, pela Prefeitura, os resultados do Concurso Porto Olímpico que visa selecionar os projetos da Vila de Mídia, a Vila Olímpica e Hotel 5 estrelas na área portuária.

A verdade é que os projetos vencedores que se farão conhecer referem-se aos grandes blocos de edificações a serem construídas na área portuária, e que engloba uma grande área de terra no local. Porém, continuaremos sem conhecer qual o projeto urbanístico para a região do Porto do Rio de Janeiro !

Projeto urbanístico é diverso de projetos de blocos de edificações: o projeto urbanístico para a área é macro, e os projetos de vilas são micros. Como projetar o micro sem as diretrizes do macro?

Os projetos arquitetônicos das Vilas, ainda que necessários para a ocupação olímpica, devem estar incluídos em uma proposta de Operação Urbana que, nos termos do Estatuto da Cidade, visa estabelecer um mix de parâmetros urbanísticos que compensem o aproveitamentos de toda a área, distribuindo encargos entre a infraestrutura geral necessária, as áreas verdes, as áreas livres, as áreas comerciais de grandes ganhos, as áreas residenciais de média renda, e as áreas residenciais destinadas à habitação social. Onde está tudo isto delineado pelo Poder Público?

Se está, ainda não foi divulgado. Não está transparente. O que está transparente, hoje, é a divulgação de uma disputa pela ocupação fundiária de grandes projetos, como o do terreno da rodoviária.

Mas, a cada vez que se fala no projeto do Porto do Rio, temos que denominá-lo pelo codinome, dado pela Prefeitura de “Porto Maravilha”. Porém, todas as vezes que a expressão “Porto Maravilha” é pronunciada, ou escrita, vem-me à mente o quanto ela encerra de paradoxal e contraditório.

O que há de maravilhoso num projeto de grande envergadura, que envolve recursos públicos vultosos tendo por objetivo “fazer bonito para inglês ver”, e prescinde de fundamentos urbanísticos essenciais?

Uma vez repetida à exaustão, a expressão “Porto Maravilha” ofusca a inexistência de conteúdos que possam legitimar as obras como ações do poder público em benefício da população.

Estranha e esperta estratégia de marketing do Executivo Municipal, que induz ao equívoco e afasta, da parte dos crédulos, qualquer suspeita, e aos mais céticos, provoca constrangimento. Certa vez, J. G., um político que teve papel de conseqüências catastróficas na Segunda Grande Guerra mundial, afirmou: Uma mentira repetida cem vezes torna-se verdade.

No caso do Porto do Rio, pelo sim ou pelo não, devemos evitar a propaganda adiantada, para que, em razão dela, não deixemos de realizar os pressupostos de planejamento público, essenciais para que essa região do Rio se torne realmente uma maravilha. Antes disto, o “projeto” do Porto do Rio será apenas uma expectativa, à espera de um projeto urbanístico público, inclusivo e realmente moderno.

Confira o Edital e o Termo de Referência do concurso Porto Olímpico.

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