segunda-feira, 22 de agosto de 2011

“Parque Olímpico” e os edifícios na beira da Lagoa de Jacarepaguá

Na sexta-feira, 19 de agosto, foi apresentado o projeto de urbanização vencedor para a área do Parque Olímpico, na atual área do Autódromo de Jacarepaguá (confira aqui).

O projeto é constituído de duas plantas. A primeira mostra a configuração da área para as Olimpíadas, com as diversas instalações esportivas ocupando 40% do terreno, e reservando cerca de 60% da área sem denominação.


Fonte: Jornal "O Globo" - Matéria: "Rio 2016 terá
projeto inglês no Autódromo" / Rafaela Santos

A planta seguinte traz o traçado da área que ficará como legado após os Jogos: ela não tem nome e aparece ocupada por espigões residenciais, comerciais e de hotelaria.

A primeira questão é: se a Prefeitura precisa de apenas 40% da área do Autódromo para a construção do Parque Olímpico, seria essa a área ideal para essas instalações? Seria mesmo necessária a demolição do Autódromo e a sua reconstrução em outra área?

Segundo um blog sobre o autódromo (confira aqui), sua remoção atenderia aos interesses de construtoras que vêm implantando na região uma grande quantidade de condomínios de luxo, que estariam “incomodados com o barulho”. A privatização de 60% da área atenderia aos mesmos interesses, liberando a área nobre, à beira da lagoa, para novos empreendimentos.

Sobre o projeto, existem três pontos importantes a serem observados. O primeiro: a provável privatização de 60% da área pública do Autódromo (Parque Olímpico) para a construção de residências e hotéis. Essa possibilidade é mencionada pelo prefeito como eventual (confira aqui).

Sendo eventual, como é que já fazia parte do edital do concurso do Parque Olímpico? E, se fosse destinada a ser um parque, para que lhe serem atribuídos índices construtivos ?

A área do entorno, ainda com muitos terrenos vazios, já vem sofrendo forte adensamento, sem que haja previsão de outros equipamentos necessários ao uso residencial.

Diante disso, é crucial que essa área frágil da beira da Lagoa de Jacarepaguá, na Barra, seja mantida como pública, para que nela seja implantada uma infraestrutura de serviços para a população como a construção de escolas, postos de saúde, praças e áreas verdes, etc.

O segundo aspecto a ser observado é o fato de a remoção de grande parte da Vila Autódromo, aparente no projeto e justificada na Lei Complementar 74/2005, não ser digna de comentários nem por parte do responsável pela empresa ganhadora nem por parte próprio prefeito (confira aqui).

A porção remanescente, protegida como AEIS (Área de Especial Interesse Social), aparece no projeto apenas como referência, sem também ser motivo de menção nos comentários de ambos.

Seria pelo menos simpático, se não recomendável, que, em termos de legado olímpico, essa comunidade, tão próxima, pudesse ser olhada com mais carinho. E que, se serão vendidos 60% de área pública que, afinal, pertencem a todos, inclusive e, sobretudo, aos moradores vizinhos, que estes fossem beneficiados com uma fatia da mesma para a urbanização de sua comunidade.

O terceiro ponto a ser observado diz respeito ao desenho dos limites da área projetada. Defende-se a remoção de parte da comunidade por estar dentro da faixa de proteção da Lagoa de Jacarepaguá.

Ao mesmo tempo, o projeto ganhador traz um redesenho desses limites, significando, provavelmente, áreas de aterro e áreas de corte no terreno; o que prejudica a fauna e flora locais, e modifica a margem da lagoa.

Este “legado ambiental” parece se sustentar em um famoso dito popular, onde se diz que a lei só vale para os pobres.

Amanhã, mais sobre as leis urbanísticas que regem a área.

6 comentários:

Fernando Ribeiro disse...

Vereadora, venho acompanhando vosso blog. Semelhante atrocidade contra a Lagoa de Jacarepaguá está sendo cometida na justificativa do BRT. A mesma coisa que foi feita na área da "Cidade do Rock'n Rio": destruição das áreas de mangue da lagoa, remoção da vegetação de um ecossistema que já é tão degradado pela falta de saneamento. Parabéns pelo excelente texto.

Buriti disse...

Cara vereadora.

Muito pertinentes as suas palavras, pois vejo finalmente alguém de dentro do dito "governo" apresentar questionamentos sérios a esse verdadeiro esbulho possessório que vem ocorrendo com o terreno do Autodromo internacional Nelson piquet, em Jacarepaguá.

hà cinco anos venho mantendo um blog denunciando esse absurdo, desde antes do Pan de 2007, fizemos carreatas, manifestações, tentamos ser ouvidos na Câmara, mas não fomos recebido e sequer nossos questionamentos foram apreciados.

As perguntas que devem ser feitas são várias, mas a principal é: O custo de um novo autódromo poderia ser amortizado pela manutenção do mesmo onde está e os equipamentos esportivos serem instalados provisoriamente em uma área dentro do autódromo que nãoa trapalhe as atividades do esprote a motor e depois, já que estas instalações erãodescartáveis o mesmo autódromos eja reformado?

A questão do "barulho" é a desculpa esfarrapada das cosntrutoras em tentar grilar o terreno, que pertende ao patrimônio público e cuja destinação, desde que foi desapropriado nos anos 60 ( a história está toda nos posts antigos do blog) e que não pode ser destinado a outra atividade que não seja esportiva, no caso rpeferencialmente já que o equiapmento apropriado (e caro) já existe, automobilismo.

Se houver condição, gostaria que a Câmara como um todo avaliasse a proposta de manter o autódromo onde está, ocupando-se o mínimo possível de espaço com equipamentos esportivos provisórios, levando os que não podem ocupar fisicamente o local para Deodoro (onde ficará a outra ponta do Transolimpiada) e que o dinheiro que deveria ser usado para levantar uma nova pista (coisa que por baixo eu estimo seja mais de 300 milhões de reais em uma projeção modesta) seja usado apra a construção desses equipamentos esportivos, já que a prefeitura não sabe de onde terá dinheiro para construí-los, e em troca o autódromo venha a ser revitalizado, pois, após Copa e Olimpíada, o único grande evento, ou eventos que poderemos atrair para a cidade serão os do esporte a motor, que vem sofrendo um incremento grande em nosso país.

Coloco-me à disposição para dar maiores detalhes dessa proposta e espero que ela tenha boa acolhida, pois afinal de contas não estou defendendo apenas o esporte a motor, mas a lisura no trato das contas públicas de nossa cidade para que se repita os erros de 2007 e deixemos para a cidade apenas um rombo financeiro de bilhões de reais.

Grato pela atenção

André Buriti
http://sosautodromorj.blogspot.com

Jason Castro disse...

Prezada Vereadora Sonia Rabello,
Em primeiro lugar gostaria de agradecer a menção do blog e me colocar à disposição para qq ação que vise a manutenção da pista de Jacarepaguá. A solução apresentada pelo companheiro Buriti é exelente, pois o espaço daria para os equipamentos necessários.
Gostaria de dizer que o abaixo assinado aberto pelo blog possui cerca de 3 mil assinaturas e caso a Câmara necessite pode ser impresso.
Continuarei acompanhando seu trabalho em prol de Copa e Olimpíadas mais justas, em benefício etodos os cidadãos e sem remoções desnecessárias.
Uma abraço,
Jason Castro

Jason Castro disse...

Em tempo: discordo da afirmação que o barulho feito pelo Autódromo seja ensurdecedor a ponto de incomodar os moradores próximos. Isto é fácil de se checado com os moradores da Vila Autódromo que segundo eu sei, nunca reclamam de barulho. As corridas geralmente acontecem durante o dia.
Gostaria também de perguntar aos moradores destes prédios que se sentem incomodados: quem chegou primeiro?

Carlos Martins S. Filho disse...

Parabéns Vereadora! O PV acaba de ganhar mais um eleitor, uma vez que o PT não vai bem das pernas e o Bittar vendeu sua alma ao PMDB e suas contrutoras...

Deixe-me acrescentar à sua argumentação alguns detalhes sórdidos:

O Projeto Olímpico propõe a destruição do Autódromo Nelson Piquet na Barra da Tijuca, a construção de um parque olímpico naquele local e a de um novo autódromo no bairro proletário de Deodoro, em um terreno hoje Verde.
Ora! A construção do Parque Olímpico em Deodoro representaria, aí sim, um legado útil para a cidade, por um terço do custo e do desmatamento!
Os futuros atletas olímpicos virão das classes menos favorecidas, como sempre foi, pois a classe média alta da Barra frequenta, no máximo, uma academia chique com ar condicionado alguns dias da semana, se tanto!
As instalações construídas no terreno do atual autódromo para o PAN estão às moscas, com exceção da Arena HSBC(?!) que é eventualmente utilizada para shows musicais(!?). À população da redondeza, e principalmente ao pessoal das comunidades, a entrada é proibida!

A transação com as construtoras, que financiariam parte do Parque Olímpico ficando com o terreno para depois construir um condomínio de classe média alta, num local já saturado de projetos deste tipo, poderia muito bem servir para construir o dobro de unidades em habitações populares onde elas são realmente necessárias, em Deodoro.
Isto sem falar nas centenas de famílias de baixa renda que a Prefeitura pretende remover das proximidades do autódromo atual, em primeiro lugar porque suas casas e suas crianças são feias e não podem aparecer na televisão p'ro mundo todo ver, e depois porque pelo valor do metro quadrado de terreno naquele local, ainda mais depois da Olimpíada, não é admissível p'ra classe média baixa, quiçá proletária...

CONTINUA...

Carlos Martins S. Filho disse...

...CONTINUAÇÃO

Pelo que entendi do que li nos jornais a sua Câmara de Vereadores acaba de aprovar uma verba de R$ 19.900.000,00 para a aquisição “direcionada” de um terreno para reassentar os moradores da Vila Autódromo. No entanto o projeto inglês aprovado para a construção do Parque Olímpico preserva a Vila Autódromo, em sua maior parte, exatamente no mesmo local onde ela hoje está. Resta então saber:
I) Para que a verba???
II) Será que a Prefeitura pretende executar realmente o projeto aprovado??? Ou temos aí um projeto inglês para brasileiro ver???

Ainda sobre o projeto inglês e o seu legado:
I) O projeto prevê a destruição da parte da Vila Autódromo localizada próximo ao atual Clube de Ultraleves (cerca de 100 residências), destinando essa mesma área a uma futura Área Residencial!? Mais nobre, com certeza! Quem poderá pagar por um apartamento na Barra com BRT à porta? Quem vai lucrar muuuuuuito com isso?
II) O projeto prevê também a destruição do próprio Clube de Ultraleves, destinando sua área a um Clube de Iatismo!? Mais chique, com certeza! Mas para os Iates chegarem ao Oceano gastaremos mais algumas centenas de milhôes de reais para elevar as pontes no caminho, pois por baixo das atuais só passam as canoas dos pesca-dores artezanais... Quem vai lucrar muuuuuuito com isso?
III) Toda essa destruição tendo em vista um Evento de repercussão mundial, com certeza, mas com duração de menos de um mês, ao custo de muitos bilhôes de reais e muitos milhares de vidas deses-truturadas, para dizer o mínimo! Será que não dá para reduzir esse custo? Quem vai, no final das contas, pagar essa conta???

Atenciosamente
Carlos Martins

P.S.1: Por falar nos pescadores, historicamente os verdadeiros donos daquelas terras, ainda que sem documentos: a colônia de pescadores que ali existia, uma das mais antigas do País, foi atropelada pelos tratores da Prefeitura sob o comando do mesmo atual Prefeito, enquanto secretário do seu antecessor.
Sua última localização, depois de escorraçados até quase à extinção, foi exata-mente no local agora opulentamente aterrado para a instalação do novo “Rock in Rio”.

P.S.2: O barulho do Autódromo só é ensurdecedor para quem está dentro do Autódromo, e só acontece durante o dia pois a pista do Autódromo não tem iluminação. Do lado de fora incomoda bem menos que as festas Rave e shows de música que ocorrem no Riocentro e na Arena HSBC ou que o próprio “Rock in Rio”. Eu sei por experiência própria pois já morei bem próximo ao Autódromo e a