Em seu trajeto atual, o Metrô do Rio está circunscrito à Cidade do Rio de Janeiro. No entanto, ontem, em audiência pública, realizada na quadra da Rocinha, para apresentação do Relatório de Impacto Ambiental da chamada Linha 4, não havia nenhum representante da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Um espanto!
A audiência pública foi surreal: representantes de associações de moradores e da sociedade civil e parlamentares (havia um deputado federal, dois estaduais e quatro vereadores) sentados atrás da cerca de ferro, que os separava das “autoridades” do Estado. Na frente da cerca, de costas para o povo, uma fileira de técnicos da empresa concessionária, que entraram mudos e saíram calados da audiência pública. E, sentadas à mesa solene, as autoridades estaduais, dentre as quais o Secretário Estadual de Transportes, e o secretário-chefe da Casa Civil. A audiência foi presidida pelo Dr. Gusmão, presidente do Conselho Estadual de Ambiente.
A audiência começou com a exposição do projeto por uma autoridade estadual: o subsecretário da Casa Civil do Estado, Dr. Rodrigo. (Por que o representante da concessionária não fez este papel?). Depois falou o representante do Instituto Estadual de Ambiente – INEA, já que é o INEA que poderá, ou não, autorizar a licença prévia desse trecho da Linha 4 do Metrô.
Esta, a chamada Linha 4, faz parte do projeto do Metrô da Cidade do Rio, e é contestada por mais de 25 associações de moradores. E o Governo do Estado do Rio de Janeiro, não se sabe bem quem nem por quê, resolveu modificar o trajeto originalmente planejado, priorizando a passagem do metrô pelos bairros de Ipanema e Leblon.
Na audiência, ficou claro que essa decisão das autoridades estaduais, que interferem diretamente na Cidade do Rio de Janeiro, interditará ruas inteiras durante quatro anos, pois esse trecho do metrô, de acordo com o primeiro cronograma, só deverá ser entregue ao público em junho ou julho de 2016. Parte disto tudo ocorrerá em plena Copa do Mundo.
E tudo sem um pio de qualquer Conselho Municipal, sem qualquer consulta ou autorização, seja da Câmara de Vereadores, seja da Secretaria Municipal de Transportes, seja de uma manifestação expressa do Prefeito da Cidade. É como se ele e o governo municipal não existissem, ou que nada tivessem a ver com isto!
A interferência em espaços significativos da cidade será enorme. Espaços considerados pelo Plano Diretor da Cidade como áreas de crescimento contido, e até como áreas de patrimônio cultural e ambiental. Só para exemplificar, estima-se que, apenas na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, 113 espécies arbóreas serão retiradas, e a praça será integralmente fechada por vários meses!
Este novo trajeto do Metrô passará entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o mar, e criará, ali, uma barreira subterrânea. Será que isto poderá interferir no fluxo das águas subterrâneas e dos rios canalizados que descem das penedias da Floresta da Tijuca pelo Jardim Botânico, fazendo inundar ainda mais as ruas internas? Será que prejudicará ainda mais a respiração da Lagoa Rodrigo de Freitas e, passados muitos anos, causará sua extinção definitiva?
O certo é que, na audiência, foi constantemente enfatizado que os estudos e pesquisas apresentados são preliminares. Inclusive, mesmo o projeto do Metrô ainda é o básico. Não houve apresentação do estudo de demanda de tráfico, nem estudos da operação do novo Linhão. Em certo momento da audiência, o próprio Secretário da Casa Civil declarou que os estudos de demanda seriam até desnecessários, porque óbvios (para ele, é claro), e que “bastava olhar no Google, assim por cima...” (está gravado, a conferir).
Passados 38 anos do início do processo da fusão entre o antigo Estado do Rio de Janeiro e o Estado da Guanabara (1974), quando “nasceu” então o Município do Rio de Janeiro, o Governo do Estado ainda não perdeu o vício de interferir nos assuntos da Cidade, como se ainda não tivéssemos, na Cidade, um governo próprio; como se a Cidade não existisse, para comandar o seu próprio destino.
Durante toda a audiência pública, o que se viu, e ouviu, foram as autoridades estaduais tentando explicar à população carioca, representada ontem por mais de dez associações de moradores presentes, o por quê das estações deste transporte público coletivo de âmbito estritamente municipal, aqui e ali nos bairros da Cidade.
Tudo isto sob os protestos veementes das Associações de Moradores da Cidade, dos quatro vereadores presentes (eu inclusive), e de uma aterradora ausência da Prefeitura da Cidade do Rio, como se tudo isso nada tivesse a ver com ela. Uma omissão escandalosa. Talvez porque ela esteja em ritmo concentrado para finalizar, de qualquer jeito, mais algumas arquibancadas na Sapucaí, para o carnaval dos turistas– esta sim, obra primordial para o futuro da Cidade Maravilhosa.
3 comentários:
A cidade está sendo claramente tratada como um produto. Visam destruir equipamentos funcionais em função de embelezamento, com o pretexto de melhorar o turismo, mas para vender área funcional como balneária. Esquecem que é uma grande cidade e que precisa ter uma malha metroviária. Nesse ponto, invejo São Paulo, que beirou o colapso nas vias urbanas e corre contra o tempo mas amplia o metrô com linhas que se cruzam.
Vários funcionários passaram anos desenvolvendo e readequando o estudo de forma a planejar seis linhas e pelo menos mais dois anteprojetos. Muito esforço detonado por canetas de pessoas que desprezam critérios técnicos.
Os três governos anteriores a este ampliaram o metrô, mas sem fazer nada diferente do planejado. Esta [indi]gestão atual troca projetos por interesses próprios.
No mais, já fui a algumas audiências públicas. Até creio que fosse pior sem elas, mas na prática servem para certificar da ineficiência dos projetos propostos, mas dificilmente conseguem abortá-los ou alterá-los.
Grata pela contribuição, especialmente quanto ao planejamento do metrô de São Paulo
No contrato original, há 10 anos, o trecho original da Linha 4, previa primeiramente que o percurso começaria no Morro São João, em Botafogo até o Jardim Oceânico. No antigo traçado original da Linha 4, na visão do Governador, foi modificado, pois que o mesmo diz não tinha sentido comercialmente e abrangeria um número menor de usuários. Ao menos a única coisa que concordo com ele. E espero não estar errada.
Na visão dele, a Linha 4 cobraria R$ 6,20 de passagem, além da tarifa praticada na Linha 1, hoje em R$ 3,10.
Entendo que, as reivindicações das Associações de Moradores, em sua maioria da zona sul, visto que o tráfego entre a Zona Sul e a Barra é um dos piores, mais congestionados e saturados da cidade do Rio, já que liga duas regiões de alto poder aquisitivo e geradoras de empregos. Inclusive cheguei a morar no Recreio, perdi empregos, por chegar com mais de uma hora de atraso, devido aos constantes engarrafamentos. O caos na região é iminente, e devido às pouquíssimas opções de melhorias disponíveis do transporte viário,já que na época, existia o monopólio das empresas de ônibus, e a implantação do Metrô é vista como a única saída e solução para o local.
Agora eu pergunto, sobre o valor de R$ 6,20 e mais R$ 3,10 ao preço atual? E mais o valor do ônibus ou de Van, R$ 2,75 ou R$ 2,00 até chegar a uma Estação do Metrô. Quem pagaria esse valor? O cidadão comum? Um trabalhador assalariado da zona oeste ou da Baixada de Jacarepaguá? Não estou falando da zona oeste da Barra da Tijuca, mas a zona oeste de Campo Grande, Santa Cruz. E quem ganharia com isso? O que vejo são os próprios moradores da zona oeste da Barra da Tijuca com um melhor poder aquisitivo. É isso, é que está em jogo, a Linha 4, não atenderia satisfatoriamente a população de um modo geral, que depende de um transporte de massa, e estaria sujeito a pagar mais de R$ 20,00 ida e volta por dia. Alguns populares, técnicos e entidades de engenharia também se manifestaram contrários ao projeto original da Linha 4, que o consideravam elitista, por só privilegiar a Zona Sul (São Conrado, Gávea, Jardim Botânico, Humaitá e Botafogo) em detrimento à zona sul de Copacabana, um bairro extremamente popular, da Zona Oeste, Zona Norte e a Baixada de Jacarepaguá. Dos dez bairros mais populosos, sete ficam na Zona Oeste: Campo Grande (328,3 mil), Bangu (243,1 mil), Santa Cruz (217,3 mil), Realengo (180,1 mil), Jacarepaguá (157,3 mil), Barra da Tijuca (135,9mil) e Guaratiba (110 mil). Completam a lista: Tijuca (163,8 mil), na Zona Norte, Copacabana (146,3), na Zona Sul, e Maré (129,7 mil), também na Zona Norte, é o que diz tudo.
E para concluir, a Estação General Osório, será o final da linha do Metrô? Como o pessoal que vem do Leme, Copacabana e Ipanema, iriam para a Barra da Tijuca? De ônibus até a Gávea? ou de ônibus até a Barra da Tijuca? Esse não é o Metrô que eu quero.
A única coisa o que me parte o coração é a construção da Estação Nossa Senhora da Paz. A Praça-Parque precisa ser salva. Muitas árvores antigas serão cortadas e um um clima de um Parque será totalmente destruído. Pode-se fazer uma outra Estação, que não seja lá.
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