quarta-feira, 27 de abril de 2011

SEM TETO E SEM PLANO

"Não há opção de moradia para a população de baixa renda. Mas, o pior, é que não há nenhum plano para realizar, nem muito menos para resolver, minimamente, esta função urbana no Rio, dentro do planejamento territorial da Cidade"

Com as chuvas, a Cidade do Rio mostra, mais uma vez, sua fragilidade à qualquer interferência fora do que é absolutamente ordinário.

Ontem, as escolas públicas municipais do Rio tiveram um altíssimo absenteísmo de alunos – de 25% a 30% de estudantes não compareceram às escolas, sobretudo àquelas próximas aos morros da Cidade. Além disso,  ontem e hoje foram dias da prova de avaliação do Município, prejudicando assim o calendário escolar. 

São os danos das chuvas que vão mais além dos desastres e do desespero  que se passou nas ruas, nas residências e no comércio.

Algumas mães que chegavam às escolas levando os filhos pequenos também demonstravam revolta com as sirenes colocadas nos morros. Elas soaram alto os alertas, bem como os auto-falantes que rondavam, dizendo para aos moradores para deixarem suas casas, no meio da chuva, à noite, com suas crianças e pertences. 

“Sair para onde?” perguntavam as mães. Seria o alerta do desespero, pois é um alerta para uma opção sem saída!

Mais uma vez, estas chuvas nos apontam para uma realidade que está posta claramente:

Não há opção de moradia para a população de baixa renda. Mas, o pior, é que não há nenhum plano para realizar, nem muito menos para resolver, minimamente, esta função urbana no Rio, dentro do planejamento territorial da Cidade.

Com o preço dos imóveis inflacionados barbaramente pelas expectativas criadas pelos investimentos e capital estrangeiro na Cidade, em função da Copa e das Olimpíadas, a situação se agrava. Aumenta a demanda, e restringe-se a oferta para as camadas não só de baixa renda, como também de média renda. Onde estão previstos os locais para novas habitações? Não há !

O Programa “Minha Casa Minha Vida” está rateando, por falta de recursos, além de ser pouquíssima a oferta, face ao tamanho do problema. E o chamado “legado” dos Jogos, relativo aos programas habitacionais, ficou restrito à chamada “regularização” das áreas já ocupadas, apenas prevendo-se a inserção de alguma urbanização e benfeitoria, o que não resolve, em termos macro, uma outra opção para habitação social. E mesmo assim, segundo a Prefeitura do Rio, a promessa é para 2020, quando a atual administração poderá estar muito longe deste problema e, portanto, longe da cobrança desta fatura.

Planejar o território é uma função pública. Infelizmente não temos para nossa Cidade o Plano de Habitação. Urge discuti-lo e aprová-lo urgentemente. Enquanto não tivermos, o drama dos sem teto, com ou sem chuvas, continuará o mesmo (...).

2 comentários:

Anônimo disse...

O problema vem de décadas passadas...e nada foi feito. O que vemos é um aumentar da ocupação de áreas de risco e de pobreza. O que podemos esperar, senão o empobrecimento total da nossa cidade?

Sonia Rabello disse...

Mudar esta lógica é o maior desafio... vc tem razão